“Precisamos de gente capaz de fazer perguntas relevantes, correlacionar cenários e experiências passadas, identificar problemas e resolvê-los”, explica Maira Habimorad |
Com a autoridade de quem é CEO da Cia de Talentos, uma das maiores caça-talentos de grandes empresas do Brasil, Maira Habimorad adverte para o risco de a educação do país perder a oportunidade de formar os jovens que o mercado, em um sentido mais amplo, demanda. “O que nos anos 80 era feito de forma desestruturada, intuitiva, migrou para um modelo comportamental. Hoje, nos processos de seleção, olhamos muito mais essa questão do que a formação técnica do candidato”, diz.Como isso funciona na prática? Cada organização cria seu próprio modelo de competências, que tem a ver com sua cultura e estratégias. E a partir daí, sai em busca de candidatos cujo comportamento indica, pelo histórico acumulado, maiores probabilidades de desempenho satisfatório e, principalmente, alinhado com os objetivos da empresa. “Uma companhia que define como estratégia o crescimento orgânico vai demandar um perfil diferente daquela que planeja crescer por fusões e aquisições; uma outra, que aposta na internacionalização também vai admitir profissionais com um perfil distinto das demais”, diz Maira. “Precisamos de gente capaz de fazer perguntas relevantes, correlacionar cenários e experiências passadas, identificar problemas e resolvê-los. Porque é da solução de problemas que o mundo do trabalho é feito”, completa. A CEO mergulhou nos 27 anos de experiência da empresa e na literatura especializada para listar quatro capacidades valorizadas (e demandadas) pelo mercado: 1. Execução prototipada É a capacidade do funcionário de observar o mundo e seu entorno mais próximo (consumidores, clientes, mercados) e criar o novo. “Mas aqui não é gastar um tempo enorme, dois, três anos, até entregar um produto pronto e acabado. Você precisa executar protótipos os mais simples possíveis, testar e aprender com o feedback dos usuários. Daí você realiza os ajustes necessários e retoma o ciclo, naquilo que chamamos de eterna versão Beta.” 2. Pense ecológico Aqui entram conceitos já descritos antes como trabalho em equipe e respeito à diversidade. A definição da Cia de Talentos é bem mais abrangente, diz respeito a toda interação com colegas, a sociedade, os concorrentes e o ambiente. “É preciso interagir de forma positiva, criar situações de ganha-ganha”, diz Maira. “Defendemos a criação conjunta com comunidades e o respeito à diversidade não porque isso seja bacana ou politicamente correto, mas porque acreditamos que o mundo do futuro será o mundo do coletivo, da cooperação.” Nesse capítulo entra também a ética nas relações profissionais e pessoais, tema que está na ordem do dia no país. “A ética hoje tem que estar ‘acima da lei’, porque o sistema legal não tem a velocidade necessária para acompanhar as mudanças nas relações sociais e de negócios”, diz Maira. Ou seja: não é porque uma coisa não é descrita como ilegal que ela deva ser adotada como prática. 3. Flexibilidade mental Muita gente já escreveu sobre a necessidade de formar jovens capazes de lidar com o volume alucinante de dados e informações do mundo atual. Maira, porém, retrocede um passo atrás. “Precisamos ter gente capaz de identificar os problemas antes de agir. Este é o grande gap da escola hoje em dia, porque lá o problema já está dado, não existe um trabalho de investigação. Aí o sujeito formado nesse ambiente fica numa postura passiva, esperando que alguém lhe diga qual é o problema a ser solucionado”, diz. “Precisamos de gente capaz de fazer perguntas relevantes, correlacionar cenários e experiências passadas, identificar problemas e resolvê-los. Porque é da solução de problemas que o mundo do trabalho é feito.” 4. Articulação emocional Esse eixo da Cia de Talentos passa pelo autoconhecimento, pela descoberta do que faz o olho daquele jovem brilhar, qual é seu propósito na vida. “A pessoa também precisa saber lidar com as coisas quando elas dão errado, porque quase sempre dão errado, em maior ou menor proporção”, diz Maira. Outra preocupação da Cia de Talentos é paradoxal: passar aos jovens profissionais a noção de que o emprego das antigas, com crachá, plano de saúde, 13º salário, é um ser em extinção. “Uma boa parte do mundo do trabalho será composta por projetos, com grupos que entram e saem desses coletivos. Isso vai exigir uma autogestão cuidadosa de tempo e potencial. Será o mundo do freelancer 3.0.”. Fonte: www.napratica.org.br |