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Dicas para reduzir custos em tempos bicudos

Especialistas apontam terceirização e banco de horas como alternativas para reduzir a folha sem promover cortes que possam ter impacto nas vendas

Embora o Brasil tenha perdido quase 2 milhões de vagas com carteira assinada nos últimos 12 meses encerrados em março, vai longe o tempo em que enfrentar uma crise se resumia a cortar trabalhadores.

Hoje, cortar despesas decorre muito mais de estratégias de gestão bem definidas e, na ponta do lápis, algumas alternativas acabam se revelando até mais eficientes, principalmente quando a mão de obra é bem treinada e a saúde financeira do negócio depende dela. Segundo Josué Bressane, sócio-diretor da consultoria Falconi Gente, em qualquer caso a palavra de ordem é “não fazer demissões no impulso”.

“A ideia é reduzir a folha de pagamento, não achatar a produtividade”, explica, ensinando a eleger, entre os maiores e os menores salários, aqueles cuja função não ameaça a produção. “É preciso olhar o perfil do funcionário, seu grau de engajamento, e as tarefas que desempenha, e não só o quanto ganha. Antes abrir mão de um gerente ruim do que dispensar um trabalhador realmente  envolvido com a empresa.”

Da mesma forma, “o corte de custos pode sair caro” quando feito de forma indiscriminada, sustenta Paulo Piccolo, sócio da consultoria BDO. “Antes de cortar, é preciso analisar os efeitos colaterais. Se a satisfação dos clientes e funcionários for  afetada, a produtividade e a qualidade dos produtos e serviços caem e a medida se mostra contraproducente”, adverte.

Exemplos? “Achatar a comissão dos vendedores resultará fatalmente em vendas menores. Melhor reavaliar suas  margens brutas, eliminar desperdícios e, eventualmente, descontinuar a comercialização de produtos com margens de lucros negativas”, propõe.

Alternativas

De modo geral, antes de recorrer ao  bilhete azul, existem outras opções no campo da gestão de recursos humanos que podem se mostrar eficazes, argumenta ainda Piccolo. É o caso da terceirização.

“Historicamente, em tempos de crise, a demanda por serviços terceirizados costuma aumentar, principalmente nas pequenas e médias empresas. Entre as atividades-meio que podem ser encomendadas a terceiros estão aquelas relacionadas com a gestão contábil, fiscal e de pessoal, o que pode propiciar uma boa redução de custos e de riscos”, aponta.

Na impossibilidade de propor uma redução salarial, proibida no Brasil, recorrer a um banco de horas é mais uma medida que pode ser adotada para conter os gastos com horas extras em épocas de pico de trabalho, como o Dia das Mães ou o Natal, sugere o sócio da Falconi Gente. “Não precisa demitir o trabalhador. Basta registrar o tempo de trabalho excedente e recuperá-lo na forma de férias mais longas ou folgas prolongadas.”  Vale lembrar que para não ter de arcar com a remuneração do funcionário pelas horas extras, a empresa deve fazer a compensação no mesmo ano.

Nos casos em que isso for possível, continua Bressane, pode ser útil tentar uma negociação com o sindicato da categoria, com o objetivo de reduzir a jornada de trabalho mediante salário proporcional, ressalva feita de que “será preciso manter os direitos trabalhistas”.

Outra maneira de mexer na folha de pagamento sem recorrer às dispensas é reduzir – ainda que temporariamente – a remuneração dos cargos de chefia e a distribuição de lucros. Para Wagner Viana Pereira, consultor financeiro do Sebrae, diminuir as retiradas, limitando-as ao pró-labore, dá o tom da crise, “supõe estar disposto a adotar um padrão de vida diferente” e transmite rigor e austeridade em relação à necessidade de fazer cortes.

Renegociar e ajustar

Melhorar o fluxo de caixa, pedindo descontos e renegociando taxas bancárias e prazos de pagamento com fornecedores, é comportamento padrão em época de crise, ensina ainda Paulo Piccolo. “É preciso fugir das multas e dos juros de banco a qualquer custo. Por isso, na medida do possível, o ideal é pagar as contas na data do vencimento e evitar usar recursos de terceiros, reprogramando prazos de recebimentos junto aos clientes para fazer caixa”, explica o consultor da BDO. A correção de rumo também inclui alugar em vez de comprar e, acima de tudo, privilegiar o pedido emitido – isto é, produzir somente o que estiver vendido.

Servir-se da renegociação, aliás, é um longo exercício de paciência em momentos de instabilidade econômica, pois praticamente tudo pode ser revisto, admitem os consultores – do aluguel ao maquinário em uso.

Nessa linha de raciocínio, enxugar os compromissos financeiros alocados na aquisição de bens como veículos, máquinas, imóveis ou mobiliário também representa uma alternativa acertada, acrescenta o consultor do Sebrae, lembrando que espaços ociosos – sala, parte de um galpão ou mesmo um andar inteiro -, podem ser sublocados. Da mesma forma, antes recorrer esporadicamente a um frete terceirizado do que arcar com a manutenção de um caminhão próprio, por exemplo.

Na contramão, avalia Paulo Piccolo, “em tempos de crise, é comum surgirem boas oportunidades de investimento, mas é preciso resistir à tentação, pois isso compromete o caixa e, dependendo do valor, resulta em danos irreversíveis”.

Para Vítor França, economista da FecomercioSP, especial atenção deve ser dada à formação de estoque. “As vendas estão em queda desde 2014. Todavia, afora uma ou outra reação pontual no sentido de conter gastos, o setor de varejo e serviços continua alimentando a percepção de que mantém estoques inadequados para a situação”, afirma França, apoiando-se em dados do Índice de Estoques (IE) da entidade.

De acordo com França, a maioria dos varejistas (52,5%) afirma ter estoques inadequados: 37,2% disseram que contavam com mais mercadorias do que o ideal. Segundo o economista, a melhor estratégia consiste em “colocar nas prateleiras apenas o que tem venda garantida”, tomando o cuidado de adequar o pagamento dos insumos ao que se vai receber, e quando. “Vemos isso nos supermercados”, explica. “Nesses pontos de venda, só se encontram produtos com bom giro.”

Para movimentar os estoques, afirma ainda Paulo Piccolo, recomenda-se envolver os funcionários no processo de redução de custos e pedir sugestões para alcançar melhorias: “Acompanhe as vendas de perto e mantenha o time de vendedores motivado, oferecendo vantagens para vendas recorrentes e volumes maiores”, exemplifica. A mesma estratégia pode ser usada para reduzir as contas de luz, água e telefone e estancar o desperdício de papel e tinta de impressão. “Criar campanhas internas e instituir incentivos para as melhores práticas entre trabalhadores são iniciativas que costumam ter aderência”, completa.

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Pensar com a cabeça de empreendedor e estar disposto a mudar o que for necessário para a sobrevivência do negócio

São Paulo – Pensar com a cabeça de empreendedor e estar disposto a mudar o que for necessário para a sobrevivência do negócio. Segundo especialistas, o mantra vale para qualquer empresário de qualquer setor da economia.

A principal lição da CNR Indústria e Comércio de Embreagens é não deixar o dinheiro parado e transformar custos fixos em variáveis. A pequena empresa atua no beneficiamento de peças automotivas e foi duramente castigada pela recessão econômica desde meados do ano passado. Seu proprietário, Ivan Tristão, passou a enfrentar graves problemas de solvência depois que o seu único cliente, uma multinacional onde havia trabalhado no passado, “cortou o valor das compras em 30%”. Desde então, além de sofrer queda da margem de lucro pela metade, Tristão lançou mão de todas as alternativas que conhecia para a contenção de despesas.

Em uma primeira fase, chegou a demitir 30% do seu quadro de funcionários; em seguida, tratou de espaçar os serviços de conserto e manutenção de máquinas. “Tenho uma empilhadeira que está encostada, parada por falta de reparo”, conta. Por fim, Tristão abriu mão de 25% do seu pró-labore e mandou seus empregados para a rua, incentivando-os a fechar negócios.

Com o agravamento da crise, porém, o proprietário da CNR Embreagens precisou rever estratégias. “A rentabilidade da minha pequena indústria despencou 60%”, avalia. “O comércio, por sua vez, recuou 30%.”

Sem dinheiro em caixa, o empresário decidiu enxugar, então, as suas necessidades de capital de giro. “Negociei os impostos e também ajustei as taxas com os bancos”, enumera. “Com os meus fornecedores, acertei pagamentos parcelados, e não mais à vista, como vinha fazendo, o que diminuiu em 40% o volume de ativos necessários para fechar o mês.”

Todas estas iniciativas vêm garantindo, dia após dia, a permanência da CNR Embreagens no mercado, mas o que realmente representaria um divisor de águas, segundo Tristão, é a possibilidade de transformar despesas fixas – como os R$ 8 mil decorrentes da manutenção do caminhão VW Constellation, de sua propriedade, que precisa desembolsar mensalmente – em gastos variáveis. “Ao vender o caminhão e substituí-lo pelo frete, não só levanto um bom capital como acabo com os custos extras que ele acarreta”, argumenta.

Na mesma linha de raciocínio, Ivan Tristão se prepara para sublocar para uma atividade terceira parte do imóvel onde está instalada sua empresa e reinvestir o dinheiro do aluguel no negócio. Desfazer-se de uma casa na praia é outro capital parado no qual anda pensando.

Terceirização

Já a multinacional francesa Motul passou de uma simples rede de distribuidores e revendedores independentes de lubrificantes e fluídos automotivos para uma startup competitiva e devidamente instalada no mercado nacional. A transição ainda está em curso e a cartilha é cortar todo e qualquer supérfluo. Seu segredo de gestão? Estruturar-se de maneira focada em torno do core do negócio – “e quem diz foco, diz não ao desperdício e diz sim à terceirização”, explica o seu controller Claudio Drucker.

Atuando no segmento de produtos premium, a empresa fundada nos Estados Unidos em 1853 está lapidando o seu modelo de negócio há quase um ano e escolheu delegar, no Brasil, todos os serviços possíveis para terceiros como forma de reduzir despezas e manter uma folha de pagamentos enxuta. “Ao terceirizar nossas atividades contábeis e nossos serviços tesoureiros, projetamos uma economia de cerca de 25%”, adianta Drucker, acrescentando que até mesmo o armazém onde se conservam os produtos e a mão-de-obra responsável pela movimentação das cargas e controle dos estoques são usados conforme a necessidade. Da mesma forma, os serviços de importação, desembaraço e distribuição dos lubrificantes trrazidos da França são contratados de terceiros.

Quanto ao quadro de funcionários fixos, Claudio Drucker diz que conta com 20 empregados altamente capacitados, que têm como missão zelar pela mesma visibilidade que a Motul tem tido no mercado nacional de lubrificantes de alta performance nas últimas duas décadas.

De tostão em tostão

Na JR&M Assessoria Contábil, cada tostão gasto com insumos – como telefone, serviço de motoboy ou impressão de documento, entre outros – tem sua razão de ser. Rigidamente controladas, as despesas geradas em escritório para atender a carteira de 260 clientes integram uma estratégia para baratear custos que o sócio José Roberto de Arruda Filho pretende perpetuar para muito além da atual crise econômica. Na opinião do gestor, a pressão por menores preços no mercado é constante e os custos menores podem se transformar no diferencial da companhia.

“Fazemos acompamento contábil, uma atividade que requer grande quantidade de insumos e gera, por exemplo, custos de telefonia e de tecnologia muito altos”, explica Arruda Filho. “Se, por um lado, a folha de pagamento e de encargos responde por cerca de 47% das despesas da JR&M, a renovação dos equipamentos de informática, manutenção dos sistemas e backup de todas as informações produzidas representa outros 15%”, compara.

Para estancar a sangria em tempos de recessão, a JR&M Assessoria Contábil implantou um sistema de gerenciamento próprio, que destina um combo de serviços a cada cliente de acordo com o seu perfil. “Temos clientes cujos dados contábeis ficam disponíveis na nuvem; aqueles para quem um motoboy leva e traz documentos e os eletrônicos”, ressalta Arruda Filho. “Esse aplicativo é o radar da casa: define nossas tarefas internas e controla os custos financeiros.”

No escritório, a impressão de documentos em papel foi substituída por relatórios online ou por PDFs que são enviados por email. O telefone não foi trocado pelo Skype, mas “a JR&M bloqueou as ligações para celular, como forma de incentivar o uso do email”, explica seu diretor. Da mesma forma, encorajou-se a redução da contratação de motoboys em favor dos correios e, em particular, do Sedex. Quanto à iluminação fluorescente, esta deu lugar às lâmpadas LED, medida que permitiu projetar uma economia de cerca de 15%, segundo Arruda Filho.

Um dos aspectos mais corriqueiros da atividade contábil – o atendimento telefônico -, abriu espaço, ainda, à instalação de um PABX inteligente, que discrimina, segundo o dono da JR&M Assessoria Contábil, a tarifação e oferece informações preciosas acerca dos contatos com os clientes: “Graças a ele, sei quem usou o telefone, para quem ligou e quanto tempo falou”, diz Arruda Filho, comemorando o fato de “ter certamente reduzido a conta pela metade”.

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