O Pix, um sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, tende a acabar com o cartão de débito e vai obrigar as maquininhas a reverem suas tarifas
Dentro de dois meses, os sistemas de pagamento passarão por uma verdadeira revolução que promete eliminar os intermediários das transações monetárias, permitindo assim que o dinheiro transite de uma conta a outra instantaneamente, a um custo próximo do zero.
O agente dessa transformação ganhou o nome de PIX. Ele é um sistema de pagamento desenvolvido pelo Banco Central (BC) previsto para entrar em operação dia 5 de outubro.
A base desse sistema são as carteiras digitais, como a PagSeguro, PayPal, Google Pay, Mercado Pago, entre outras. Elas possibilitam transações sem a necessidade do compartilhamento de dados bancários. O banco, um dos intermediários das operações financeiras tradicionais, é eliminado com o Pix.
Nesse novo sistema, o dinheiro migra de uma carteira digital para outra. Isso é feito principalmente com o uso de aplicativos para smartphone.
O consumidor entra na loja, aproxima o celular do QR Code do produto que deseja comprar e instantaneamente o valor a pagar sai de sua carteira digital para a carteira do lojista.
Não haveria mais a necessidade dos cartões e das maquininhas. Consequentemente, as tarifas desses meios físicos de pagamento deixam de existir.
Segundo o Banco Central, o custo do Pix será de R$ 0,01 por operação. Não está claro ainda se esta será a taxa para quem recebe o dinheiro. Quem envia não será taxado. E não há custo para a aquisição de uma carteira digital.
POTENCIAL PARA O VAREJO
A tendência é que o varejo seja o principal indutor do Pix. Se hoje as tarifas cobradas pelas maquininhas de cartão são de 1,5%, para débito, e 2,5%, para crédito, o custo da operação com o Pix para o lojista tende a ser de centavos.
Além disso, o dinheiro entrará na carteira digital do lojista em até 10 segundos após a transação pelo sistema do Banco Central. Isso, 24 horas por dia, sete dias por semana.
O baixo custo e velocidade também valem para o pagamento de fornecedores e colaboradores. A expectativa é que o Pix acabe com o TED e o DOC bancários, que hoje têm taxa média de R$ 10 por operação.
Mas, para Flávio Calife, economista da Boa Vista, o principal benefício do novo sistema é a autonomia que dará ao lojista para ele criar a forma de pagamento que achar mais conveniente.
“O empresário pode trabalhar com QR Code ou qualquer outro modelo de pagamento digital que desenvolver. As fintechs terão papel fundamental no Pix”, diz o economista.
As fintechs estão de olho nos 45 milhões de brasileiros desbancarizados, e que com o Pix poderão ser inseridos no sistema financeiro simplesmente abrindo uma carteira digital. Mas também enxergam oportunidade nos serviços que podem ser agregados ao novo sistema.
“As lojas poderão ter seus próprios crediários digitais, por exemplo, e as fintechs se encarregariam de criar sistemas para administrar os parcelamentos”, diz Calife.
As fintechs farão a diferença nesse novo mundo dos pagamentos. Mais de 1,5 mil delas pediram autorização ao Banco Central para participar do Pix, sendo que até agora mil ganharam permissão.
FIM DO CARRINHO NO E-COMMERCE
A perspectiva é que o Pix reduza o número de cliques necessários para se fazer compras on-line. No Brasil, cerca de 80% dos carrinhos gerados em compras virtuais são abandonados. São vários os motivos: navegabilidade complicada no site, limitação nas formas de pagamento, necessidade de cadastro.
“O Pix encurta as etapas. Em teoria, não será mais preciso passar pelo carrinho, diminuindo muito a jornada de compra. Ou seja, a tendência é que a taxa de conversão das vendas on-line aumente”, diz Calife.
IMPACTOS NO MERCADO
Ao resumir a operação financeira a um diálogo eletrônico entre duas carteiras digitais, o Pix coloca contra a parede as administradoras de maquininhas e bandeiras de cartão.
Para Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a tendência é que o cartão de débito suma do mercado. Quanto às maquininhas, segundo Solimeo, elas terão sobrevida, “mas não ganharão mais dinheiro com cobrança de tarifas.”
O economista da ACSP diz que, ao menos no início do processo, as formas de pagamento tradicionais conviverão com o Pix. E as maquininhas terão de agregar serviços, como a gestão financeira dos clientes, para continuarem existindo.
Depois da chamada “guerra das maquininhas”, que aumentou a concorrência no setor e fez as tarifas caírem, muitas já vinham ampliando o rol de serviços aos clientes, algo que deve se intensificar agora.
Outro provável impacto do Pix no mercado é a redução do volume de pagamentos com dinheiro em papel. Essa é uma forma de transação comum principalmente entre os pequenos comerciantes. No Brasil, 60% dos pagamentos ainda envolvem dinheiro em espécie.
Como o Pix tende a reduzir os custos das transações, há uma grande possibilidade de o pequeno empresário abandonar o dinheiro físico, o mesmo tende a acontecer com o consumidor desbancarizado. Ambos migrariam para esse novo sistema de pagamento.
“É um sistema muito mais flexível, que vai reduzir custos para o consumidor e para o empresário. É esperado que traga mais competitividade ao mercado de crédito”, diz o economista da ACSP.
O Pix está no escopo da agenda BC# do Banco Central, que engloba o Cadastro Positivo, a duplicata eletrônica, entre outros.
Fonte: dcomercio.com.br Por Renato Carbonari Ibelli