Empréstimo pode ajudar a manter operações e pagar funcionários durante a crise, mas exige cautela e análise profunda das necessidades do negócio
A liberação de crédito para pequenas empresas se tornou uma das grandes demandas frente à crise do coronavírus. A mobilização resultou no aumento do volume disponível nos bancos em novas linhas de financiamento. Mesmo assim, o acesso ainda é difícil: até o início de abril, 60% dos pequenos negócios que buscaram empréstimo haviam tido crédito negado, segundo uma pesquisa do Sebrae.
Um dos grandes obstáculos para o acesso é a exigência de garantias pelas instituições financeiras. Outro problema é que muitos empreendimentos já não tinham uma situação financeira boa antes da pandemia. Na pesquisa, 24,4% dos respondentes afirmaram que o cenário era ruim. Para 49%, era razoável.
Quem pensa em buscar crédito no mercado deve prestar atenção em alguns pontos. O primeiro deles é definir a real necessidade do negócio e traçar como ele poderá funcionar daqui para frente. Outro é entender quais são as linhas disponíveis e as alternativas para quem não tem garantia. Veja, abaixo, como analisar esses e outros pontos.
Entenda a situação atual e futura da empresa
Por mais que pagar as contas esteja difícil, é importante analisar as perspectivas futuras da empresa antes de pedir empréstimo. Isso inclui considerar o cenário econômico, como a alta no desemprego e a queda no poder de compra da população. “Não adianta pegar pensando em ter a mesma operação que teria antes da crise. A condição será pior”, aponta o assessor econômico da FecomercioSP Guilherme Dietze.
A falta de previsibilidade sobre a abertura do comércio em algumas cidades também dificulta a análise. Por isso, o melhor caminho é buscar adaptar o negócio às novas condições. Considerar a adesão a um marketplace ou a criação de um e-commerce são alguns exemplos. Já os comércios de bairro podem ganhar mais recorrendo à divulgação pelas redes sociais e ao delivery.
Dietze também indica analisar o que as pessoas mais estão precisando no momento. Com mais pessoas em casa, a demanda por utensílios domésticos cresce e a por vestuário cai, por exemplo. Seja qual for o caminho de adaptação, a palavra-chave é planejamento. “Não adianta mudar tudo em uma ou duas semanas. Pode ser um tiro no pé”, afirma ele.
Defina os gastos mais significativos
O planejamento futuro permitirá definir melhor a real necessidade de crédito da empresa. Dietze diz que, se a ideia é migrar para as vendas digitais, por exemplo, a necessidade de pagar fornecedores tende a ser maior do que a de manter os funcionários ativos. Então, uma opção é buscar uma linha de crédito para capital de giro. “Com a antecipação dos recebíveis, as maquininhas e os meios de pagamento digitais também são uma maneira eficiente de gerar crédito para as empresas”, aponta ele.
Já se a presença da equipe é essencial para a retomada do negócio, é possível recorrer à redução de jornada e salário permitida pela MP 936. Se a redução for inviável, um caminho pode ser buscar uma linha de financiamento de folha de pagamento. Apesar dos exemplos, vale ressaltar que a análise é individual e o crédito não é a melhor opção para todo mundo. “Para muitos, será preferível manter as portas fechadas e não se comprometer com dívidas do que se arriscar.
Explore as linhas e condições disponíveis
Muita gente ainda não conhece as medidas e linhas de crédito que estão sendo lançadas para apoiar os pequenos negócios. Na pesquisa feita pelo Sebrae, 29% dos empresários entrevistados não conheciam as medidas e 57% apenas ouviram falar a respeito. Fazer uma pesquisa ampla é importante para saber o que o mercado está oferecendo e praticando em termos de juros e prazos. O Sebrae disponibiliza uma lista com as linhas anunciadas até o momento.
Na hora de escolher a instituição financeira, Dietze diz que a primeira tentativa deve ser feita com aquela que te conhece há mais tempo e, portanto, tem mais chances de oferecer condições mais vantajosas. Elas, porém, devem ser comparadas a outras opções no mercado antes de um aceite. “Hoje, quem está muito à frente em linhas de capital de giro e financiamento de folha é a Caixa. Mas é preciso ver o caso de cada um”, diz.
As fintechs também aparecem como uma opção interessante, em especial para quem não tem uma garantia para oferecer. Outro diferencial é a oferta de crédito online, por aplicativos ou plataformas digitais.
Garantias
Quem tem garantias a oferecer terá mais vantagens na hora de negociar com o gerente. Além de imóveis, Dietze diz que uma alternativa comum antes da crise era utilizar descontos de duplicatas e recebíveis. Sem eles, o risco analisado pelo banco aumenta e as chances de concessão de crédito caem.
Uma alternativa indicada hoje é recorrer a um fundo garantidor ou de aval, oferecido por instituições como BNDES, Banco do Brasil, Sebrae e Desenvolve-SP. Eles concedem garantias complementares na contratação de crédito, funcionando como uma espécie de “seguro” para tornar o risco menor para o banco. O resultado é uma taxa de juros mais alta, mas uma linha mais acessível para quem não tem outras garantias.
Recentemente, o Sebrae fechou uma parceria com a Caixa para ofertar R$ 7,5 bilhões em crédito a micro e pequenas empresas por meio do seu Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe).
Dietze alerta que o serviço deve ser procurado diretamente na instituição financeira desejada para obter o crédito, que fica responsável por acionar o fundo. Diz, porém, que é possível haver alguma burocracia. “Como são linhas desconhecidas para alguns bancos, o gerente pode não conhecer o processo.”
E quem está negativado?
Quem já tinha dívidas antes da crise terá menos chances de conseguir acessar crédito agora. Ao anunciar a parceria com o Sebrae, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, afirmou que a parcela poderá ser inclusa em uma nova linha de crédito “em um segundo momento”. Até lá, a recomendação é que busquem outras linhas de crédito ofertadas pelo banco. Uma alternativa oferecida por instituições foi a prorrogação do prazo para o pagamento das dívidas.
Segundo Dietze, tentar obter empréstimo como pessoa física para arcar com dívidas da empresa não é uma boa opção. “Empresa é empresa e família é família. Se você misturar as coisas e ficar com o nome negativado, o barato sairá caro”, diz.
Fonte: Revistapegn.globo.com