Especialistas em educação financeira orientam que o pequeno empresário possa listar suas despesas da pessoa física e a adoção de pró-labore mensal
A recomendação é simples, mas ainda pouco seguida por pequenos empreendedores – separar as contas pessoais (e da família) daquelas relativas à empresa é fundamental e traz como benefício quase imediato perceber o lucro do negócio.
“Muitas vezes, o pequeno empresário reclama que o seu negócio não está dando lucro, mas, na verdade, tem apenas medo de enxergar a realidade e os números: suas contas pessoais ou da família podem estar afundando uma empresa rentável”, alerta a especialista e educadora financeira da Fharos Contabilidade e Gestão Empresarial, Dora Ramos.
Para evitar essa situação de desorganização financeira, a primeira dica da especialista é que o empresário trabalhe com duas contas correntes no banco, uma para a pessoa jurídica e outra de pessoa física.
“O maior empecilho mesmo é a falta de disciplina em começar a se organizar. Esse é o erro mais recorrente. Mas depois que há um mínimo de organização, os benefícios são quase imediatos”, afirma.
A existência de contas correntes separadas para a pessoa jurídica e a pessoa física ajuda a disciplinar o pagamento dos diversos compromissos. “As despesas pessoais [ou familiares] devem ser pagas somente com os recursos da conta corrente da pessoa física. É preciso estabelecer um pró-labore, que nada mais é que o salário mensal do empreendedor, que é transferido da pessoa jurídica para a pessoa física”, diz.
A segunda dica da educadora financeira é que o empresário possa listar todas as despesas pessoais ou familiares, separadas dos compromissos da empresa. “No simples passo de elaborar uma lista, o pequeno empreendedor já percebe que pode cortar alguns gastos que considera desnecessários, ou que pode controlar determinadas despesas”, conta.
Segundo Dora Ramos, essa prática que pode ser feita numa planilha de computador ou “num caderninho” também vale para a pasta de contas a pagar do pequeno negócio. “De posse dessas informações, por exemplo, ele já pode administrar melhor o seu estoque e evitar contrair dívidas bancárias para pagar fornecedores”, recomenda a educadora.
Ela contou a ocorrência frequente de pequenos empreendedores que acabam criando suas próprias dificuldades com bancos. “Quando se mistura tudo [o pessoal e o negócio] os problemas aumentam. Se retira dinheiro da empresa para a entrada em um carro novo, ou para o financiamento de um imóvel, o empresário pode estar comprometendo um pagamento de um fornecedor e ser obrigado a aumentar seu endividamento no banco”.
Na prática, o pequeno empresário tem toda a liberdade de comprar um carro novo ou um imóvel, mas deve planejar-se e retirar esses recursos do seu pró-labore mensal. “A existência de um pró-labore facilita a prestação de informações ao Imposto de Renda, como justificar o patrimônio.”
Outro benefício da regularidade do pró-labore é a contribuição para o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). “O mais correto é que ele recolha sua previdência, pois quando tiver uma determinada idade irá desejar se aposentar”, orientou Dora.
Ela citou que num pró-labore de cerca de R$ 5 mil, o ideal é recolher a contribuição pelo teto de INSS, de R$ 4.663,75. “A alíquota é de 11%, e o valor da contribuição é de R$ 513. Há quem reclame do valor, mas ninguém quer receber apenas o salário mínimo na aposentadoria”, contou a educadora.
Para o educador financeiro da DSOP, Reinaldo Domingos, o conceito de separar as contas também vale para autônomos, profissionais liberais e micro empreendedores individuais. “Mesmo que ele não tenha uma conta PJ [pessoa jurídica], ele precisa de duas contas correntes para separar o papel de provedor da família, e de empreendedor de um negócio.”
Ele orienta que esse empreendedor levante tudo que corresponde ao negócio. “Tem que separar o se compra para manter o negócio, os custos com aluguel, água, energia, telefone. É como ter duas famílias, portanto, exige dois controles”, alerta o educador.
Duas reservas financeiras
Domingos também recomenda a criação de duas reservas financeiras separadas. “Assim num momento de dificuldade do provedor na vida familiar ou no negócio, não se mistura tudo novamente”, orientou.
Ernani Fagundes
DCI
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