No início dos anos 2000, um grupo de pesquisadores da Universidade de Chicago analisou um pianista de alto rendimento durante um concerto local. Apesar da plateia lotada e da pressão do momento, o músico respirava profundamente e mantinha seus batimentos cardíacos em ritmo lento. Logo depois do show, o compositor disse: “Minha mão se movimenta sem qualquer comando e, aparentemente, eu não tenho nada a ver com o que está acontecendo. Fico apenas ali, sentado, em um estado de reverência e encantamento.” O que poderia ser chamado pelos leigos de alta concentração foi atribuído pelos cientistas ao estado de flow.
Idealizado pelo psicólogo húngaro Mihaly Csikszentmihalyi, o conceito descreve uma condição mental na qual o indivíduo imerge completamente naquilo que está fazendo, entrando em um estado de foco máximo que o faz perder o sentido de espaço e tempo. Em seu livro “Flow: A Psicologia do Alto Desempenho e da Felicidade”, o pesquisador descreve: “É um momento de concentração tão intensa que não sobra atenção para pensar sobre algo irrelevante ou se preocupar com problemas. A autoconsciência some e a percepção de tempo fica distorcida”.
O efeito do estado de fluxo, como também é chamado, é tão poderoso sobre o cérebro que, nessas condições, a produtividade pode aumentar em até cinco vezes, de acordo com um estudo da consultoria empresarial Mckinsey & Company. Thaís Gameiro, neurocientista e sócia da Nêmesis, assessoria corporativa especializada em neurociência organizacional, explica que essa mudança de comportamento está associada ao foco. “Ao experimentarmos o flow, realizamos a atividade com mais qualidade, pois grande parte de nossos recursos sensoriais e cognitivos estão dedicados à realização da tarefa em si, favorecendo nossa performance”, diz.
Segundo a especialista, o envolvimento com a tarefa se torna tão prazeroso nesse estado que seria possível permanecer na mesma atividade por tempo indeterminado. Por isso, o flow está diretamente relacionado à positividade e à felicidade. “Quando experimentamos esse estado, nos sentimos mais engajados e satisfeitos com nossa própria capacidade de realizar alguma coisa. Nos sentimos produtivos e mais conectados com o momento presente, sendo, portanto, um elemento importante para nosso bem-estar e saúde emocional”, descreve.
Mas, apesar de parecer tentador entrar nesse estado de subconsciência todos os dias da semana, durante o trabalho, raramente as condições se mostram favoráveis para isso. Pelo contrário: alcançar o fluxo é um evento raro. “Os estudos mostram que o flow é uma experiência episódica, eu diria que quase rara, que se manifesta como um estado de consciência baixo e altamente recompensador”, afirma Camila Magalhães, psiquiatra do Hospital Sírio-Libanês. A médica explica que, além de ter seus objetivos claros em mente, o indivíduo precisa estar despreocupado, tranquilo, bem descansado e motivado para penetrar no ápice da sua produtividade. “Ou seja, este não é um estado contínuo em nossas vidas e não pode ser medido como a felicidade ou a ansiedade”, diz.
Pensando nisso, a Forbes pediu para que as especialistas elaborassem cinco dicas para quem quer atingir o estado de flow – ou seja, o ápice da sua produtividade. Veja, na galeria abaixo, quais são elas:
1. Mente e corpo saudáveis e descansadosPara que o estado de flow ocorra é importante que o corpo esteja descansado e devidamente nutrido para garantir um bom funcionamento cerebral. Manter a concentração por longos períodos de tempo é algo que exige energia do cérebro, portanto, noites mal dormidas, excesso de trabalho e ausência de intervalos entre as atividades não favorecem o ápice da produtividade. Além disso, distrações internas como preocupações, estresse e ansiedade também acabam “ocupando” o cérebro e ativando circuitos que dificultam os momentos de flow.
2. Ambiente livre de distrações
Como o flow se caracteriza como um estado mental de atenção plena, um ambiente com muitas distrações e interrupções vai dificultar que ele ocorra em sua plenitude. Por isso, é importante ter janelas de trabalho no qual seja possível manter-se focado na atividade, livre de notificações, ruídos, pop-ups, telefonemas, mensagens instantâneas e conversas de terceiros. Técnicas de meditação e mindfulness também são válidas para potencializar o processo.
3. Evitar o multitasking
O cérebro só é capaz de focar em uma atividade por vez, por isso, o ideal é evitar fazer várias coisas ao mesmo tempo. Esse tipo de prática acaba gerando fadiga mental e aumentando a improdutividade. Além disso, é mais difícil entrar em um estado de subconsciência enquanto a mente é alvo de estímulos diferentes.
4. Objetivos claros e feedback imediato
Uma característica importante do flow é a necessidade de monitoramento do sucesso e do progresso da atividade que está sendo realizada. Por isso, é importante ter clareza sobre qual é o objetivo final da tarefa que está sendo executada. Assim, ficará mais fácil identificar se as coisas estão progredindo na direção certa, bem como realizar um autofeedback.
5. Desafio na medida certa e interesse na atividade
Só é possível entrar no estado de flow se o desafio em questão for compatível com as habilidades do indivíduo. Ou seja, a meta deve ser viável, caso contrário, a frustração e o medo tomarão conta da mente, impedindo a concentração. Além disso, o flow só acontece quando existe motivação e interesse na tarefa, seja ela qual for. Fazer algo por obrigação dificilmente levará ao estado de fluxo.
Fonte: FORBES